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Archive for the ‘Traduções’ Category

«Na aridez abrasada de sol do grande lago poeirento que, por mais leve que se pise, cobre a gente, até os olhos, de branca poeira peneirada, o menino e a fonte formam um grupo risonho e esplêndido, cada qual com a sua alma. Embora ali não haja uma única árvore, o coração, em chegando, se enche de uma palavra que os olhos fixam, gravada no céu azul da Prússia, com grandes letras de luz: OÁSIS.

A manhã já tem um calor de sesta e a cigarra chia nas oliveiras, para as bandas do cercado de San Francisco. O sol bate em cheio na cabeça do menino. Ele, porém, distraído com a água, não sente. Estendido no chão, está com a mão sob o jorro vivo, e a água lhe põe na palma um borbotante tesouro de frescura e de graça que seus negros olhos comtemplam em êxtase. Fala sozinho, respira fundo, coça-se aqui e ali, com a outra mão. O tesouro, sempre igual e diferente sempre, desfaz-se às vezes. O menino, então, se retrai, apruma-se, concentra-se para que nem essa pulsação do sangue que, como um espelho que se movesse sozinho, muda a sensível imagem do calendoscópio, roube à água a primitiva forma surpreendida.

Platero, não sei se entenderás ou não o que te digo: mas esse menino tem a minha alma em sua mão».

[ Juan Ramón Jiménez – Platero e Eu, Cap. XLII – O Menino e a Fonte ]

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Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.

Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, como esta tarde estão tocando,
Os sinos do campanário.

Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto de meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico…
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido…
E os pássaros ficarão cantando.

[ Juan Ramón Jiménez ]

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radio

FAKE PLASTIC TREES
ÁRVORES ARTIFICIAIS DE PLÁSTICO

(Radiohead)

Seu regador verde de plástico
para sua imitação chinesa de planta feita de borracha
na terra artificial de plástico
que ela comprou de um homem de borracha
em uma cidade cheia de planos de borracha
para se livrar de si mesma
Isto a desgasta
Ela mora com um homem quebrado
um homem de polistireno rachado que só se esfarela e
se queima
Ele costumava fazer cirurgia para garotas nos anos
oitenta
mas a gravidade sempre vence
(E) Isto o desgasta
Desgasta
Ela parece verdadeira
Ela tem sabor verdadeiro
Meu amor artificial de plástico
Mas não posso evitar o sentimento
Eu poderia explodir através do teto se eu simplesmente
me virar e correr
E Isto me desgasta
Se eu pudesse ser quem você queria
o tempo todo

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