Claro, como não!, era apenas a lua! Porém a fixação [mania, cisma, moda pessoal, entusiasmo, distração; quantos nomes!] faz com que os sentidos dancem de modos harmônicos [porém numa cena muda para o público], e bailamos desmedidamente até que… até que a moda passa; até que… cansamos. Cansamos! Então buscamos outras distrações [outras, mas que nunca são novas], e seguimos solitariamente bailando, perdidamente apaixonados pela visão no espelho; um corpo girando, girando, mantendo a cabeça o máximo de tempo parada em seu eixo: temos que nos assistir, admirar, extasiar, chamar a atenção [geralmente a nossa própria atenção] até que… enjoamos. Enjoamos, mas não dizemos assim [muito menos pensamos assim… fingimos!]. Então olhamos ao redor – como?! O espelho desaparece, surge o fantasma de nós mesmos.
Quando paramos de bailar [navegar nessas ondas, quem pode saber?], rimos mais ainda e fechamos novamente o nosso círculo: agora estava quase perfeito. Não fomos abduzidos pela lua [nem havia possibilidade, pois éramos muitos – aliás, ainda somos].
Continuei andando, acompanhando o tilintar do chaveiro pendurado em minha mente e cantando ao som da banda de nossos passos, e logo pudemos abrir o círculo: estava nesta casa, finalmente.
Despedi-me do astro principal, que finalmente havia transposto o umbral celeste e nos acenava [ou será que era um daqueles sorrisos lunares rechonchudos, pintados em telas frias?] e normalizei a sobrancelha já cansada. Mantive os olhos retesados, por via das dúvidas. Temos que nos apegar a alguma coisa que demonstre certa seriedade. É o jogo.
Era só a lua mesmo. Só que cismamos de querer acreditar que não seja apenas isso; temos de criar mundos fantásticos e misteriosos: excitação! Qualquer coisa serve, contanto que seja diferente e possamos especular a respeito. Oras, para especular não é preciso muita coisa: basta inventar, concatenar harmoniosamente alguns fatos, imagens que adquiram sentidos sem-sentidos e que por isso mesmo podem ser manipuladas. Batemos muitas palmas ao espetáculo e pode até ter algumas lágrimas nos olhos, tudo isso faz parte, aliás, investimos em tudo isso, ainda é o mesmo jogo. Qualquer coisa serve… por mais que seja descartável.
[ José Roldão ]
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